23.03.2023 às 17h48
Lusa
O Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do grupo CGD (STEC) disse hoje que teme que não tenham efeito no banco eventuais novos aumentos na função pública e defendeu que a instituição deve dar lucros mas não a qualquer preço.
“Independentemente do que venha para função pública, temo que não tenha qualquer repercussão na Caixa Geral de Depósitos [CGD]”, afirmou Pedro Messias, no parlamento, em audição na comissão de Orçamento e Finanças.
O primeiro-ministro, António Costa, mostrou disponibilidade na quarta-feira, no parlamento, para rever os salários dos trabalhadores da função pública, pois a inflação em 2022 foi superior à que o Governo tinha inicialmente previsto.
Quanto a um novo pagamento extraordinário pela CGD para fazer face ao aumento do custo de vida (como aconteceu em novembro passado), o dirigente sindical disse que uma solução desse tipo é discriminatória e deixa de fora milhares de trabalhadores.
Além disso, um valor extraordinário pontual não tem repercussão na tabela salarial, não fica para o futuro, não conta para pensões, lembrou.
O bónus dado em novembro de 2022, afirmou, não chegou a um terço dos funcionários (não receberam nada) e já o valor máximo de 900 euros só chegou a cerca de 220 trabalhadores. O valor entre 600 e 900 euros foi pago aos trabalhadores com salário até 2.700 euros mensais.
Sobre horas extraordinárias que a CGD não paga e que levou o STEC a marcar uma greve que durou entre fins de 2021 e maio de 2022, Messias disse que o banco se comprometeu a instalar registos eletrónicos em todos os locais de trabalho mas foi adiando. Agora o prazo é até final do primeiro trimestre, que acaba para a semana.
Messias disse que esse é um tema fundamental para os trabalhadores e que leva mesmo a situações graves, com adulteração do registo de saída (quando é feito em papel é fácil alterar).
Um trabalhador, contou, saiu às 18:30 mas estava registado no papel às 16:30. Como teve um acidente mas no papel tinha saído mais cedo houve problemas com o seguro.
Sobre os lucros da CGD, o presidente do STEC disse que o lucro é positivo mas não a todo o custo.
“A CGD não está cá para dar prejuízo, mas não deve estar no mercado pelo lucro pelo lucro”, disse, defendendo que o banco público tem de fomentar a “coesão social e territorial” e contribuir de forma positiva para a economia, empresas e cidadãos.
Sobre o funcionamento da CGD, os dirigentes sindicais do STEC que hoje estiveram na comissão parlamentar afirmaram que as agências funcionam de modos diferentes, sendo que muitas fecham a tesouraria ao meio-dia, o que tem grande impacto nos comércios e empresas.
Já o sistema de senhas existe numas agências e não existe noutras, o que consideram que deveria ser alterado para que as senhas voltem em todos os balcões. Sem senhas, dizem, muitos clientes sentem que não estão a ser atendidos na vez correta e há mesmo situações de grande agressividade sobre funcionários.
Os dirigentes sindicais mostraram-se ainda preocupados com a perda de quota de mercado pela CGD, considerando que isso é reflexo dos cortes e do serviço com menos qualidade, havendo o risco de Portugal “ter um banco público mais pequeno do que outros bancos”, afirmou a vice-presidente do STEC, Joana Carvalho.
Esta semana, a CGD anunciou ter acordado com o STEC a revisão da tabela salarial, incluindo um aumento de 76 euros para todos os trabalhadores e a subida do subsídio de almoço de 11,43 euros para 12,50 euros diários.
Os lucros da CGD em 2022 ascenderam a 843 milhões de euros, mais 44,5% face a 2021, tendo pagado ao acionista único, o Estado, o “maior dividendo da história” do banco, no valor de 352 milhões de euros.
No final de 2022, a Caixa Portugal tinha 5.837 empregados, menos 280 do que os 6.117 de final de 2021.
Nos últimos anos, a CGD tem mantido em vigor programas de rescisões por mútuo acordo e de pré-reformas com o objetivo de reduzir a sua estrutura.
Já quanto à rede comercial, em final de 2022, era 515 o número de agências, espaços Caixa e gabinetes de empresas, menos 27 do que no fim do ano anterior.
IM // CSJ