Enzo Santos
25 Março 2022 às 13:47
O 23º Governo Constitucional corresponde ao esperado, um Executivo mais enxuto, que terá também um centro de operações mais reduzido geograficamente. Os “ministérios com responsabilidade direta na execução do Plano de Recuperação e Resiliência [PRR]” concentrar-se-ão, até ao final deste ano, na colossal sede da Caixa Geral de Depósitos (CGD), anunciou o gabinete do primeiro-ministro, em comunicado. A Avenida João XXI, em Lisboa, passará a ser a futura casa de parte do novo Governo de António Costa.
O centro de operações dos ministérios ligados ao PRR vai passar a ser “num só espaço físico”, informa o comunicado, concentrando, assim, os ministérios em salas desocupadas nos cerca de 22 mil metros quadrados da atual sede da Caixa. Com esta mudança, será possível reduzir “dezenas de cargos e serviços intermédios”, lê-se na mesma nota.
Já havia intenções de fazer esta mudança. Em declarações ao Jornal NOVO, em maio do ano passado, a ministra do Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, confirmou que existiam “conversas preliminares” no sentido de “avaliar a eventual utilização pelo Estado de espaço livre no edifício-sede” da instituição bancária, escreveu o NOVO.
Construído com o mesmo objetivo que pretende alcançar o Governo, o edifício foi projetado para “concentrar num único espaço os serviços da CGD”, que se encontravam instalados em cerca de 26 edifícios dispersos pela cidade de Lisboa, lê-se no site do banco. Construído acima das necessidades do banco, a construção gerou uma polémica “assaz” e “intensa”, escreve a CGD no seu site. O arquiteto do projeto, Arsénio Raposo Cordeiro, viria a dizer, em 1996, que “da qualidade da obra, o tempo falará por si”.
Da qualidade da obra não são levantadas questões, da dimensão dos espaços que não têm sido usados não se pode afirmar o mesmo. Assim, o edifício que outrora deu lugar a uma fábrica de cerâmica, é atualmente ocupado pela sede da CGD e também pela Culturgest. Espaço não falta, o edifício tem 205 mil metros quadrados de área bruta de construção que serão, em parte, ocupados pela equipa de Costa. Da concentração de ministérios num único local, e das qualidades e sucesso do futuro Executivo, o tempo também falará por si.
Um colosso polémico
O edifício de dimensões enormes, no centro de Lisboa, tem 15 pisos – seis subterrâneos e nove superiores -, capacidade para 4500 pessoas, para, mil lugares de estacionamento e 245 instalações sanitárias e balneares. Tem ainda espaços verdes ao longo de toda a fachada e espaços ajardinados distribuídos pela sede.
Foi a 15 de julho de 1987 que se deu a cerimónia da “primeira pedra”, que contou com a presença dos membros do Conselho de Administração da CGD. Iniciava-se, então, um longo processo de construção que começou em 1981 e só viria a terminar em março de 1994, mais de dez anos depois.
Em 1981, da necessidade de concentrar num só espaço os serviços da CGD, foi enviada uma proposta ao então ministro das Finanças do Governo de Mário Soares, Ernâni Lopes. A aquisição viria a ser aprovada a 13 de agosto desse ano, resultante de uma resolução do Conselho de Ministros, escreve a CGD no seu site. A visão da Administração da Caixa para a sua sede era promover “um marco arquitetónico, estética e urbanisticamente equilibrado”. Depois de um concurso e algumas reuniões para analisar o projeto, a responsabilidade recaiu num consórcio constituído pela Lusotecna e o gabinete do arquiteto Arsénio Cordeiro.
Uma vez divulgada publicamente a proposta selecionada, “as reações na comunicação social, dos mais diversos setores, não se fizeram esperar, com a presença relevante para os concorrentes eliminados. Engenheiros e arquitetos, alguns de renome a nível nacional, individualmente ou através das suas corporações foram efusivos nos seus comentários não apenas quanto à opção arquitetónica mas também quanto aos custos envolvidos na futura construção”, lê-se no site da CGD. A polémica foi de tal forma intensa que escalou até à Assembleia da República e foi necessário prestar esclarecimentos “à tutela, que por sua vez os fazia chegar aos diversos interlocutores institucionais”.
Com toda a polémica gerada, o projeto de licenciamento só foi aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa em 1986. No dia 12 de fevereiro de 1993, a sede foi apresentada à comunicação social e a 27 de abril foi efetuada a transferência dos departamentos centrais da Caixa Geral de Depósitos.