Terça-feira, 15 de Outubro, 2024

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Fotografia: Nuno Botelho

Mulheres ganham menos 460 euros por mês do que os homens na Caixa Geral de Depósitos
EXPRESSO

12:54 8 Março, 2022 | Diogo Cavaleiro

 

 

Mais qualificadas, em maior número, mas mais mal pagas. Na administração da CGD, as mulheres ganham menos porque não há nenhuma nos cargos de topo. Números a propósito do Dia Internacional da Mulher.

 

As funcionárias da Caixa Geral de Depósitos, em média, levam para casa, ao final de cada mês, menos 460 euros brutos do que os seus colegas homens, de acordo com o relatório sobre remunerações no maior banco do sistema, publicado em janeiro e consultado pelo Expresso a propósito do Dia Internacional da Mulher, que se celebra esta terça-feira, 8 de março.

 

O banco de capitais exclusivamente públicos tem mais mulheres a trabalhar (60,9% dos trabalhadores são mulheres), e o nível de habilitações é superior também no género feminino (63,9% dos trabalhadores com formação académica superior são mulheres). Porém, quando se olha para o salário, a diferença é favorável aos homens.

 

“A remuneração anual média na CGD aumentou +1.175 euros/colaborador, evoluindo de 35.432 euros para 36.607 euros entre 2020 e 2021, sendo que as mulheres recebem, anualmente, uma remuneração média de 34.081 euros e os homens, 40.544 euros”, indica o relatório disponibilizado pelo banco presidido por Paulo Macedo. As mulheres registaram um ganho anual de 1.125 euros, enquanto os homens tiveram um aumento maior: 1.351 euros.

 

Há, portanto, uma diferença entre os géneros de maior dimensão no último ano: são 6.463 euros anuais, número maior do que os 6.237 euros de diferença de 2020. Dividindo este valor por 14 meses em que normalmente são pagos os salários, chega-se a 462 euros mensais brutos.

 

No universo de trabalhadores com menos de 30 anos, as mulheres até ganham mais que os homens (42 euros anuais de diferença), mas à medida que a idade aumenta o fosso salarial agrava-se – chega a ser superior a 8 mil euros anuais para os funcionários acima dos 50 anos. Tanto na gestão, como nos quadros técnicos e no pessoal operacional de apoio o vencimento das mulheres fica aquém do dos homens, sendo que, claro, é nas posições superiores que há maior distinção.

 

 

Administração com paridade nos salários

 

Sendo o maior banco do sistema financeiro português, estes são números que servem de indicador do que acontece nas restantes entidades do sector, sendo que a CGD é até aquele que mais mulheres chama para a sua comissão executiva e conselho de administração. Por imposição legal (integra o sector empresarial do Estado), a Caixa tem de elaborar um relatório sobre as diferenças salariais por género a cada três anos e o último é este que data de janeiro de 2022, tendo como referências os vencimentos atribuídos no final de 2021 (que incluem remunerações fixas, variáveis e subsídio de refeição).

 

Dos 17 membros da administração, seis são mulheres, o que corresponde a 35%. Dentro da administração há uma comissão executiva, em que há três mulheres em oito elementos. “De salientar que a CGD na sua composição do Conselho de Administração tem das percentagens mais elevadas da banca e das empresas de grande dimensão a operar em Portugal do género sub-representado”, justifica o banco no relatório. Com a mudança de mandato no ano passado, a representatividade feminina melhorou na CGD. Mas há um senão.

 

“Ao nível da remuneração média anual entre mulheres e homens, constata-se que existe uma paridade nos administradores executivos [326 mil euros anuais] e nos administradores não executivos [98 mil euros anuais]”, especifica o documento, que mostra, porém, que tanto o presidente executivo (423 mil euros) como o presidente do conselho de administração (326 mil euros) e o presidente da comissão de auditoria (119 mil euros) são homens. O que estraga a média.

 

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Maria João Carioca é a administradora com o pelouro financeiro da CGD. É uma entre três mulheres na comissão executiva de oito membros. No último mandato, era uma entre oito.

Fotografia: Nuno Botelho

 

 

Assim, em média, as mulheres auferem, nestes cargos de topo, uma remuneração média de 212 mil euros, enquanto os homens chegam aos 233 mil euros.

 

Ainda assim, esta é uma diferença bastante menos relevante do que a registada no ano anterior, quando estava em atividade a equipa de administração anterior, com menos mulheres: aí, os 115 mil euros pagos a mulheres nestas posições comparavam com a remuneração média de 233 mil euros atribuída aos homens.

 

 

Mais mulheres na gestão

 

“Aumentar a percentagem de mulheres em funções de gestão” e “assegurar o princípio de salário igual para trabalho igual ou de valor igual”, que será conseguido com uma “análise interna, e de uma revisão (se necessária), do sistema de análise de funções”, são alguns dos passos que a CGD pretende dar para inverter a desigualdade salarial entre géneros nos seus quadros. A desigualdade não é uma novidade – e o Expresso já tinha escrito há meses sobre os planos de igualdade que a CGD, por ser pública, e o BCP, por ser cotado, tiveram de fazer para promover o efetivo pagamento equilibrado entre géneros.

 

A banca é, tal como a generalidade da economia, um mundo de diferença salarial entre homens e mulheres, sendo que há regras que têm vindo a ser impostas – sobretudo ao nível dos conselhos de administração – para tentar inverter a posição. E tudo já foi pior: por exemplo, como também já foi escrito pelo Expresso, a Parvalorem, empresa estatal que herdou trabalhadores e ativos tóxicos do antigo BPN, paga em média menos 1000 euros a mulheres do que a homens devido ao peso destes últimos nos cargos diretivos.

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