Vítor Rodrigues Oliveira
07 de Julho de 2022 às 13:34
O CEO da Caixa Geral de Depósitos entende que o aumento das pensões vai ajudar a pressionar os salários e, como consequência, os preços no próximo ano.
A promessa de António Costa de “um aumento histórico das pensões de reforma” em 2023 – ao não alterar “a fórmula que existe desde 2007” -, pode ter um efeito de bola de neve sobre os salários, avisou Paulo Macedo na conferência Caixa Negócios em Portugal, numa parceria entre a Cofina e a CGD.
“A pressão salarial será sentida no próximo ano. E, além do que sabemos [sobre o panorama internacional], será sentida em Portugal quando temos referenciais para aumentos de pensões acima de 5%”, notou o presidente executivo da CGD. “Dificilmente teremos aumentos de pensões muito elevados e depois os salários muito mais baixos”. Para já, a inflação que se sente “ainda não tem grandes impactos salariais”, mas o gestor entende que é uma questão de tempo.
Com uma inflação “muito concentrada na energia, nos produtos alimentares e nas ‘commodities'”, Paulo Macedo considera que até “tem havido alguma redução de margem”, mas que, “sobretudo, tem existido repercussão dos preços”.
Ou seja, neste momento, a maioria das empresas não estará em esforço, porque está a ser “salvaguardado o aumento de margens e a rentabilidade”.
“Não temos indicações de que as empresas vão ter um pior ano do que o ano passado, muito pelo contrário”, afirma.
Outro elemento “que gera perturbação” está relacionado com “a alteração de estratégias de abastecimento mundiais”, em que as empresas estão a “equacionar se mantêm atuais fornecedores”, porque percebem “que não podem estar dependentes só de um fornecedor”.
“Só esta questão leva a um aumento imediato da inflação”, sublinha o CEO da CGD. “Se eu deslocalizo de fornecedores mais baratos para outros que são mais caros, mais perto de mim, de maior confiança e de maior proximidade, poupo nos custos de transporte mas imediatamente também vou ter custos iniciais mais elevados”.
Além disso, as empresas estão mais preocupadas em reduzir stocks, “porque quem hoje não tem stocks tem um problema”, ao contrário do que era o paradigma de stocks reduzidos antes desta crise.
Mas não há só desvantagens. “Vai haver necessidade de voltar a produzir muito mais para substituir as importações da China e do mercado asiático”, indica Paulo Macedo.
O gestor, sublinha que a incerteza é elevada – “basta um corte de gás à Alemanha e a recessão fica logo no trimestre em questão” -, mas o cenário base da CGD “ainda parece relativamente benigno”. “Não há nenhuma entidade nacional ou internacional que preveja uma recessão para o ano que vem”.