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António Mexia, ex-presidente executivo da EDP, auferiu quase 2,17 milhões de euros de remuneração global em 2019

Fotografia: © Carlos Manuel Martins / Global Imagens

Presidentes de empresas ganham dez vezes mais do que os seus trabalhadores
DIÁRIO DE NOTÍCIAS

Elisabete Tavares

06 Janeiro 2021 — 09:00

 

Homens continuam em maioria na administração das empresas e ganham em média mais 20% do que as mulheres.

 

São, na esmagadora maioria, homens e ganham, em média, dez vezes mais do que os colaboradores das empresas. É este o retrato do típico presidente executivo (CEO) em Portugal, segundo um estudo da consultora Mercer, relativo ao ano de 2020. O mesmo estudo também demonstra que 85% dos que ocupam cargos de topo na administração e órgãos de fiscalização das empresas são homens e ganham, em média, mais 20% do que as mulheres nos mesmos cargos.

 

O estudo “Remuneração de Executivos de Topo” contou com a participação de mais de meia centena de organizações em Portugal. “Relativamente ao gap salarial de remuneração fixa entre CEO e a média de colaboradores, verifica-se um rácio médio de 10 x”, destaca o documento.

 

A análise mostra ainda que “relativamente às diferentes componentes de remuneração, os administradores executivos representam em média uma remuneração variável anual com um peso de 45% face à remuneração fixa”. No caso dos trabalhadores, “a componente variável não representa, em média, mais do que 13% da respetiva remuneração fixa”.

 

Para Tiago Borges, consultor na Mercer, “esta informação ganha especial relevância após a aprovação da Lei n.º 50/2020, que define que deve ser apresentada pelas empresas cotadas a informação da remuneração média de trabalhadores a tempo inteiro (excluindo os membros dos órgãos de administração e de fiscalização) de modo a permitir a sua comparação”.

 

O estudo da Mercer contou, no total, com a participação de 55 organizações – incluindo oito cotadas do PSI20 -, duplicando o número de participantes da edição anterior, realizada em 2017, que contou com 28 participantes.

 

Segundo os relatórios e contas das cotadas do PSI20, de 2019, somando a remuneração fixa e variável, os CEO passaram a ganhar quase 30 vezes mais do que a média do salário dos colaboradores. No ano anterior, ganhavam 25 vezes mais. Em média, cada CEO ganhou 916 mil euros em 2019, um aumento de 20% face ao exercício anterior. Quanto ao salário médio dos trabalhadores, ficou-se pelos 29 mil euros, subindo 1,5% em termos homólogos.

 

O CEO da Jerónimo Martins é o que regista maior diferença salarial. Pedro Soares dos Santos ganhou 1,8 milhões de euros em 2019, o que corresponde a 167 vezes o salário médio de um trabalhador do grupo retalhista, que se fixou em 10,5 mil euros anuais.

 

Em média, das 18 empresas que compõem o índice PSI20, cinco pagam aos seus CEO uma remuneração superior a 50 vezes o salário médio dos seus colaboradores. São elas a Galp, EDP, Semapa, Sonae e CTT.

 

A lista dos CEO com os salários mais altos é liderada por António Mexia, ex-presidente executivo da EDP, que auferiu quase 2,17 milhões de euros de remuneração global em 2019. Seguem-se Soares dos Santos, com 1,76 milhões, Manso Neto, ex-líder da EDP Renováveis, com 1,48 milhões, João Castello Branco, da Semapa, com 1,42 milhões e Carlos Gomes da Silva, da Galp , com 1,39 milhões.

 

 

Diferença de género

 

O estudo também demonstra a existência de um grande fosso entre géneros, não só na ocupação de cargos de topo, como em termos de remuneração. “O género feminino continua sub-representado nos papéis de liderança, embora se tenha registado um ligeiro aumento face ao último estudo realizado em 2017”, destaca a Mercer. De facto, o estudo “aponta uma elevada predominância de elementos do sexo masculino – 85% – nos órgãos de administração e de fiscalização em Portugal”.

 

Segundo a consultora, “este elevado rácio assume maior importância quando, considerando a Lei 62/2017, segundo a qual existe uma obrigatoriedade de cumprir os requerimentos dos reguladores que definem a proporção das pessoas de cada sexo designadas em razão das suas competências, aptidões, experiência e qualificações para os órgãos de administração e de fiscalização do setor público empresarial e das empresas cotadas em bolsa”.

 

De acordo com o estudo da Mercer, “das empresas portuguesas cotadas participantes são identificados rácios entre 20% e 30%, sendo que em alguns casos não existe representação de ambos os sexos nos órgãos de administração”. Estes dados apontam que não está a ser cumprida a legislação nesta matéria que aponta que a proporção de pessoas de cada sexo designadas para cada órgão de administração e de fiscalização de cada empresa não pode ser inferior a 33,3 %. Esta regra aplica-se a partir de 1 de janeiro de 2018 para organizações do setor público empresarial e a partir de 1 de janeiro de 2020 para empresas cotadas em bolsa.

 

 

Novas métricas

 

Segundo a Mercer, uma das tendências mundiais é a crescente relevância da utilização de indicadores de performance ligados a fatores ambientais, sociais ou de governance (ESG), “que apesar de não ser prática comum no mercado nacional são uma realidade cada vez mais presente a nível europeu”. “A inclusão de indicadores de avaliação de performance ligados a fatores ESG têm ganho relevância por toda a Europa, em alguns casos como resposta à pressão cada vez maior de investidores e acionistas”, segundo o CEO da Mercer, Diogo Alarcão.

 

 

Elisabete Tavares é jornalista do Dinheiro Vivo

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