Intervenção de Pedro Messias em representação do STEC, na manifestação de Bancários em 13 de julho 2021 na Assembleia da República:
“Companheiros e companheiras,
A nossa forte presença hoje aqui é uma grande prova de solidariedade que demonstramos perante este inadmissível ataque feito a todos os bancários.
Parece que se está a tornar moda, ou até “num novo normal”, que quando as empresas apresentam lucros, de seguida apresentem àqueles que mais contribuíram para o êxito da empresa, um prémio intitulado “despedimento coletivo”.
No caso da CGD, é preciso não esquecer que na aplicação do plano de recapitalização acordado com Bruxelas, de 2017 a 2020, saíram cerca de 2300 trabalhadores, entre reformas pré-reformas e RMA’s, e encerraram cerca de 180 agências.
No novo plano estratégico 2021/2025, cujo teor é absolutamente desconhecido quer dos trabalhadores quer das estruturas representativas, mas que estrategicamente já foram sendo “plantadas” algumas ideias que passam “por emagrecimento do quadro de pessoal”, que o mesmo é dizer, mais RMA, reformas e PPR e menos trabalhadores, e também menos agências, ou seja, menos coesão social e territorial, área que a CGD, como banco público que é deveria ter responsabilidades acrescidas.
Pela forma como foi conseguida a redução de pessoal permitiu até que a CGD tivesse sido distinguida por uma revista de Recursos Humanos, como aquela empresa que promove o envelhecimento ativo e a preparação para a reforma. Até poderia ser para rir, se não fosse verdade.
E sabem como? Com pressão, ameaça, chantagem e assédio. Trabalhadores com histórico de avaliação positivas, reconhecidos pelo seu empenho profissional, de um dia para o outro, sem que nada o indique, são confrontados com a retirada de “isenção de horário de trabalho” e de imediato convocados para uma ”entrevista” tendo em vista o seu “futuro profissional”.
Futuro esse que passa pelo convite a aceitarem o RMA que lhes é apresentado ali, sem mais. RMA generoso, ainda dizem. E mais, como aliciante dizem que “isto é um divórcio, e ele vai acontecer”. E de forma requintada acrescentam “que podem sempre completar o fim do mês vendendo uns bolinhos, ou fazendo uns biscates no café do bairro”.
Isto acontece na CGD, uma empresa de capital público que deveria ser um exemplo de rigor e ética profissional.
Mais recentemente, outro prémio, o de Personalidade do Ano, atribuído ao Presidente da Comissão Executiva, que na oportunidade disse que “São as pessoas certas com que trabalhamos todos os dias que dão a origem a estes prémios. A gratidão é para elas.”
Na verdade, e como o STEC já o denunciou publicamente, e hoje aqui reiteramos, são esta as pessoas que depois de uma vida de trabalho e dedicação à CGD, são confrontadas com propostas “irrecusáveis” de PPR, de RMA e ainda ameaçadas caso não aceitem! São estas pessoas para quem as práticas de Assédio Moral se tornaram um hábito.
O momento pandémico que atravessamos não pode servir para tudo. Não podemos permitir que a reboque da pandemia, se torne normal apresentar um “despedimento coletivo” como se este fosse a vacina. Estamos a falar de pessoas e não de coisas, e as pessoas não são descartáveis.
Aliás, será bom não esquecer que durante todo este momento pandémico, a banca, a atividade bancária, foi considerada como serviço essencial e nunca encerrou. O atendimento presencial nunca deixou de funcionar, com todos os riscos inerentes, pessoais e familiares. Todos os serviços bancários foram e continuam a ser garantidos.
Nesta altura, e como é público, os bancos estão a apresentar lucros. Não há, pois, uma qualquer necessidade económica que obrigue à apresentação de um qualquer despedimento coletivo. Não é de todo razoável. É despropositado!
Não nos iludamos. O propósito parece ser outro. A coberto da pandemia, a estratégia que parece estar a desenhar-se é sim um brutal ataque à contratação coletiva. E caso essa estratégia faça caminho, os trabalhadores bancários no seu todo parecem caminhar a passos largos para serem a próxima classe precária.
As Estruturas de Representação Coletiva dos Trabalhadores devem unir forças para travar estes atropelos.
O Governo, a Assembleia da República, têm de intervir, não podem assobiar para o lado.
Ou resistimos juntos ou separados perecemos.
Só unidos é que poderemos resistir a semelhante ofensiva.
Viva aos trabalhadores bancários
Viva a todos os trabalhadores”